no escuro do porão da nossa casa viviam irriqüietas almas
ora em êxtase [ voando pela eternidade
ora embaladas em sonhos [ criando melífluas fantasias…
um belo dia um’alma me segredou
como surfar a luz
passar cabresto em pirilampos e estrelas
rodopiar ileso na densa escuridão
fazer pactos c’o Diabo
e evocar o amor [ sem sucumbir à inocência…
o problema é que eu só tinha 8 anos.
minha mãe só se importava c’o terço de prata.
meu pai só se importava c’os rabos de saia.
Nenzoca só lavava, passava, cozinhava, varria, polia,
sonhava, fazia figas e praguejava.
os muleques só se importam em bodoquear sanhaços no brejo.
as mulecas só se importam em boquetear os muleques.
o problema é que no escuro do porão
se fazia meu cárcere.
lá eu mantinha “com fervor”: mertiolate e arnica
para os machucados do corpo…
papel e lápis para os machucados d’alma…
uma verve rebelde de poeta
[ para enfrentar o quebranto!
nem me lembre - 1987
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